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Direção artística e musical: Kristoff Silva
Produzido por Kristoff Silva e Pedro Durães
Mixado por Ricardo Mosca
Masterizado na Classic Master, por Carlinhos de Freitas e Ricardo Mosca.
Projeto Gráfico: Leonora Weissmann e Júlio Abreu
Imagens: Leonora Weissmann
Ficha técnica:
1) PALAVRÓRIO
Kristoff Silva e Mauro Aguiar
Não quero que ninguém me louve no Louvre
Sou livre
Eu quero a palavra que leva pra lá do louvor
Pra lá da vala comum da palavra vã
Palavra que cai feito mão na luva
Que valora a fala
E cala fundo na alma de quem não cala
Não a palavra diva, sim a divina e viva
Não a palavra dúvida, sim a palavra ativa.
Pra lá da vala comum da palavra vã
Não a palavra velada que uma nuvem leva
Mas a palavreada que desfaz a névoa.
Ela costurada à raiva
Ela meio estrela e treva
Não a palavra cova, sim a lasciva e nova.
Quero a palavra ávida, quero a palavra trova.
Quero a palavra ogiva que mostra a gengiva...
Quero a palavra n a v e (voz 1)
(bem) pra lá da vala comum da palavra vã (voz 2)
Kristoff Silva: voz, violão, programação eletrônica
Pedro Durães: programação eletrônica
Rafael Martini: piano acústico
Pedro Trigo Santana: baixo elétrico
Antonio Loureiro: bateria e percussão
A u t o m o t i v o
Kristoff Silva e Mauro Aguiar
Deus do aço e da fumaça
Vê se atende à minha prece
Vê se entende a minha pressa
Dentro dessa couraça
Que todo ano eu refaço
Que todo ano eu renovo
é minha vida que passa
é minha vida que peço
Prometeste o paraíso
Route six six sex
Máxima felicidade
Alívio pra todo stress
Mas a mais pura verdade
é que o seu sermão de monóxido
Não leva à tal liberdade.
Por isso meu caro arauto
Recolha meu canto incauto
Entenda o automotivo
Dessa herética oração:
O seu motor de explosão
Terá menos um devoto.
Vou andar com o pé no chão.
Kristoff Silva: voz, violão, guitarra, teclado e samples
Pedro Durães: programação eletrônica
Pedro Trigo Santana: baixo elétrico
Antonio Loureiro: bateria
arranjo para metais: Kristoff Silva e Pedro Trigo Santana
Trompete: Juventino Dias
Sax alto: Tiago Ramos
Sax tenor: Jonas Vitor
Trombone: Alaécio Martins
Sax Barítono:Vinícius Augustus
3) D u r a n t e s
Kristoff Silva e Mauro Aguiar
Antes se dizia até amanhã
E amanhã era um lugar tão grande
Que entre ele e o hoje
Cabia um mapa mundi
Se fazia um Gandhi
Era muito, muito longe.
A noite engavetava o afã
E não era vã a novena.
A cena transcorria inteira
A pena, a elegia, a lareira
A hora cabia dentro de uma hora exata
E a meia-noite em ponto, na mata,
um regato adormecia.
A madrugada ainda madurava o vento
E o tempo espairecia alado.
Amanhã de manhã ficava mesmo
do outro lado.
Hoje o amanhã é hoje,
e o hoje,
se vem,
vem quase nuvem.
Kristoff Silva: voz, violão, guitarra
Pedro Durães: programação eletrônica
Pedro Trigo Santana: baixo elétrico
Antonio Loureiro: bateria e vibrafone
4)Princípio da Incerteza
Kristoff Silva e Makely Ka
Nossa única certeza é a morte
Um princípio e razão fundamental
Sua fria beleza é uma arte
Nosso elo final com a perfeição
Sutileza cirúrgica de um corte
A navalha de Ockan na razão
Todo o resto é incerto e duvidoso
e quedamos à nossa própria sorte
Não é divino nem maravilhoso
Um deserto sem sol na escuridão
Uma voz de dentro de um fosso
Numa língua que não tem tradução
Quando tudo jazer inerte
como a lâmina dura do metal
quando o sangue estancar sua corrente
e então soçobrar respiração
viver cada segundo eternamente
sem sofrer por antecipação
Não vai haver qualquer despesa
nem sequer um funeral
um átimo de delicadeza
o peso a entrar em suspensão
21 gramas de leveza
nossos pés já não mais ao rés do chão
E se a vida for como uma brisa
um sopro reverso e terminal
o pescoço não sustentar cabeça
o esforço não encontrar ação
esse é o princípio da incerteza
essa é a nossa condição
Kristoff Silva: voz, violões, guitarras e teclado
Avelar Jr.: baixo elétrico
Yuri Vellasco: bateria e percussão
5)Ávida
Kristoff Silva e Mauro Aguiar
Eu me acostumei à ilusão
Desviando os olhos pra não me ver.
Grávida de sombra e de sofrer
Dei à luz
A solidão.
Hoje quero amar e perdi a mão do prazer,
Penso demais...
Meu espelho manda sinais,
Diz: “teu corpo é pura alucinação.
Costurando lágrimas na voz
Sigo assim
Presa no chão.
Hoje revirando meu coração pude ver
Sonho demais...
Vejo o tempo passar por mim
Quero desesperar!
Rasgo o velho disfarce e aparece
um desejo no meu olhar
Mas o amor, se vem ,
Pisa em falso e desfaz no ar.
Kristof silva: voz e programação eletrônica
Pedro Durães: programação eletrônica
Teclado: Rafael Martini
6)Acrilic on canvas
Renato Russo, Marcelo Bonfá, Renato Rocha e Dado Villa Lobos
É saudade então. E mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez:
Os traços copiei do que não aconteceu.
As cores que escolhi, entre as tintas que inventei,
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três.
Trabalhei você em luz e sombra.
Era sempre: - Não foi por mal.
Eu juro que nunca
Quis deixar você tão triste.
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
- Quase nunca são.
Preparei a minha tela
Com pedacos de lençóis
Que não chegamos a sujar.
A armação fiz com madeira
Da janela do teu quarto.
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com as lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
E da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes
De tamanhos diferentes
E fiz então
Pincéis com seus cabelos.
Fiz carvão do batom que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte.
Era sempre: - Não foi por mal.
Eu juro que não foi por mal.
Eu não queria machucar você:
prometo que isso nunca vai
Acontecer mais uma vez.
E era sempre, sempre o mesmo novamente
- A mesma traição.
Ás vezes é difícil esquecer:
- Sinto muito, ela não mora mais aqui.
Mas então porque eu finjo que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim - não foi desse jeito.
Ninguém sofreu: é só você que provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito" e "não-te-esqueças-de-mim".
Kristoff Silva: voz, violões, guitarras, teclado e concepção
Pedro Durães: desenho de som
Pedro Trigo Santana: baixo elétrico
Yuri Vellasco: bateria e vibrafone
Arranjo para quarteto de cordas: Kristoff Silva
Rodrigo Bustamante: violino I
Hyu-Kyung Jung : violino II
Gerry Varona: viola
Eduardo Swerts: cello
7)Rabiscos
Kristoff Silva – Bernardo Maranhão
Uma menina pequena chegou pra mim
E me pediu pra dizer que palavra ela pôs no papel
...e nada!
Uma porção de rabiscos aqui e ali ao léu e só.
Eu ponderei que aquilo não tinha sentido nenhum.
Ela falou: “não pode ser!”
“Gente grande sabe ler!”
“Fala o quê que é!”
Logo vi que era bom eu mudar de tom.
Falei, então:
“Isso é o anoitecer...”
Ela disse “eu tinha certeza!”
“Minha noite é a noite mais linda...”
“Olha a chuva de estrela chegando...”
“No castelo não tem luz...”
A artesã dos rabiscos sorriu pra mim
E tudo em volta de nós revelou seu inteiro teor:
Palavra.
Quando a palavra primeira no escuro fez a luz,
Foi tanta estrela dançando e riscando a lisura do céu...
E a menina eu vi ali
Ela perguntou pra mim: “que foi?”
“Pára de sonhar!”
“Olha que eu consigo ler a sua mão...”
“Destino bom...”
“Vida longa pra você e eu.”
Fui olhando meus próprios rabiscos,
Onde o tempo roçou minha pele.
Segurando nas mãos uma ausência,
A palavra falava comigo.
Segurando nas mãos o silêncio,
A palavra mostrou seu avesso.
A palavra impossível.
A palavra noturna.
A palavra calada.
Quem dirá?
Kristoff Silva: voz, violão e guitarra
Rafael Martini: piano acústico
Pedro Trigo Santana: contrabaixo acústico
Antonio Loureiro: percuteria
Felipe Continentino: bateria
Part. Ricardo Herz ( violino solo)
Arranjo para quarteto de cordas e piano: Rafael Martini
Rodrigo Bustamante: violino I
Hyu-Kyung Jung : violino II
Gerry Varona: viola
Eduardo Swerts: cello
8)O ADEUS
Kristoff Silva e Luiz Tatit
O adeus foi tão gentil, tão gentil
Tão gentil que não me pareceu mal
O adeus me divertiu
E eu curti a hora de dizer tchau
Ainda hei de exprimir
Minha alegria ao me despedir
E o nosso amor foi tão bom
O melhor dos que eu vivi
Mas foi muito melhorna hora de partir
O adeus foi genial, foi igual
Foi igual a quando começamos
Achamos natural
Que durasse muitos, muitos anos
Oh meu amor, que ilusão!
Não há adeus que dure muito não
Só o essencial
Nunca além de uma simples saudação
Mas dá tanto prazer sua preparação
Quando pra não machucar a gente escolhe a dedo
As palavras mais sinceras que estavam em segredo
É tão leal
É tão cruel
É tão gentil
O adeus foi tão sutil que impediu
Que impediu que a gente fosse embora
Ninguém dali saiu
Nem sentiu que enfim chegara a hora
Mas os seus olhos nos meus
A implorar mais um milhão de adeus
Sim, seu olhar
Meu olhar
Só tinham pra dizer
Foi o maior prazer
Foi o maior prazer
Foi o maior prazer...
Kristoff Silva: voz, violão, guitarra e teclados
Rafael Martini: piano acústico, rhodes e arranjo
Pedro Trigo Santana: baixo elétrico
Antonio Loureiro: bateria e vibrafone
Sérgio Aluotto: marimba
09)Parceria
Kristoff Silva e Mauro Aguiar
Amolecer a letra vã no vão de um violão
Dar alma nova à voz refém da folha de papel
Como rasgar o véu?
Como encontrar o tom?
Vestir de vento um verso em si tão pouco afeito à fala?
Manusear a emoção com laivos de artesão
Enovelar o novo e o não em cada decibel
Como romper o chão?
Como lançar ao céu
Essa palavra envidraçada que não me dá trela?
Só se eu fizer pra quem tem
O dom de traduzir bem,
Como convém, minhas entrelinhas.
Só se eu fizer pra você
Que canta ao bel-prazer
E gosta de me lamber a cria.
Escapulir para um desvão que a redondilha abriu
E por um fio puxar um fio que sirva a um assovio
Como colher a flor?
Como ser tão sutil?
E elaborar uma ilusão enquanto escalo escalas?
Só se eu fizer para a voz
Que sabe desatar nós
Como quem faz isso todo dia.
Só se eu lhe der a canção
E junto meu coração
Para adoçar nossa parceria.
Kristoff Silva: voz e violão
Antonio Loureiro: vibrafone
Pedro Trigo Santana: contrabaixo acústico
Arranjo para madeiras, contrabaixo e vibrafone: Kristoff Silva
Flauta: Renata Xavier
Oboé: Alexandre Barros
Clarineta: Marcus Julius Lander
Fagote: Cláudio de Freitas (arregimentador)
Clarone: Ney Franco
10)A voz e o verso
Kristoff Silva – Bernardo Maranhão
Foi nas mãos de um velho jangadeiro que uma vez eu vi
Uma agulha dançando, uma linha virando uma rede
Reatando um a um os espaços vazios da tarde
Pra peneirar um cardume nas ondas do mar
Eu não sei se costume ou destino me talhou assim
Pra notar no de sempre uma súbita luz passageira
E, no que há de mais novo, rever toda a antiguidade
Sei que me invade uma beira de espanto no olhar
E por isso me fio em tecer o escrever
Me seguro em balanço e lanço
Sobre a escrita nova escrita
Na ventura e na desdita
Sem achar descanso
Vai no verso uma linha que pode bordar
Um passado, um futuro, um furo
Mas o verso sem a voz
É a linha sem os nós
É a fera entre muros
A palavra que vem chega antes e além
Quando a voz de uma pessoa soa
Mas cantar sem palavras
É uma rede sem travas
É um vulto na garoa
Se há uma ponte que leva da mente até ao coração
Eu prefiro a jangada que passa dançando entre as ondas
E mais de um pescador eu já vi caminhar sobre as águas
Feito quem desce da rede pra ir ao jardim
Velha caligrafia a nanquim figura igarapés
No desenho da letra vai coisa que a letra não diz
E a canção quando passa enredando na letra uma voz
Leva o não-dito e o dito entre as ondas sem fim
Kristoff Silva: voz
Rafael Martini: piano acústico
Alexandre Andrés: flautas C, G e baixo
Pedro Trigo Santana: baixo elétrico
Antonio Loureiro: bateria e percussão
Arranjo para flautas e piano: Rafael Martini
11)DEVIRES
Kristoff Silva e Bernardo Maranhão
Sonhei o rio a brisa e a maré
E palmas altas e águas murmurando
Guadalquivir, talvez, Capibaribe
Itapoã, quem sabe Daomé
Do sonho, duas visões que retive:
Um louva deus pousando em João Cabral
E Dorival na praia arquitetando
A nuvem, a gaivota e o litoral
Abraço minha sombra imponderável
Confio minha luz à trama viva
Dos signos, dos desígnios do invisível
Entrego-me aos devires da deriva
Não porque não vejo outro caminho
Mas porque sonhei que a vida é sonho
Kristoff Silva: voz, violão e guitarra
Pedro Trigo Santana: contrabaixo acústico
Daniela Ramos: percussão ( pandeirões, matraca, maraca, tambor tupã e pratos)
Arranjo para quarteto de cordas: Kristoff Silva
Rodrigo Bustamante: violino I
Hyu-Kyung Jung : violino II
Gerry Varona: viola
Eduardo Swerts: cello
agradecimentos
aos parceiros de letras (Bernardo Maranhão, Luiz Tatit, Mauro Aguiar e Makely Ka) e músicas (todos os instrumentistas, e, com a máxima ênfase, aos músicos Antonio Loureiro, Pedro Durães, Pedro Trigo Santana e Rafael Martini). Ao Ricardo Mosca, pela cumplicidade, amizade e extrema competência. À Flávia Mafra, Loló e Júlio, pelo empenho! A todos que emprestaram afetuosamente seus instrumentos (Dea Trancoso, Leandro Cesar, Gustavito, Andre Cabelo, Avelar Jr., João Antunes). Aos técnicos de gravação e edição (Alexandre Martins, Carlúcio Ribeiro, Cesar Santos, Fábio Barros, Kiko Klaus, Pedro Veloso, Ygor Rajão). Aos que, de algum modo, apoiaram as gravações: minha família (especialmente Fifi Barbosa), Rubner Abreu e colegas da FEA, Werner Silveira, Luana Saggioro, Drica Mitre ,Priscila Torres, Lauro Henriques Jr.(saravá, my brother!), Tomás Pimenta (pelo entusiasmo inabalável), Sérgio Aluotto, Cláudio de Freitas, Arthur Nestrovski, e, com muito carinho, a todos os amigos que acompanharam a longa trajetória rumo a esse segundo disco.
À minha filha querida.
À vida, “que me ha dado tanto”!
- Genre
- MPB-alternative.eletronic