Pai João, poema de Jorge de Lima by Lucas Rolim published on 2016-08-16T17:12:52Z poema de Jorge de Lima, arranjo e leitura de Lucas Rolim. imagem da capa: "a criação pelo vento", fotomontagem de Jorge de Lima do livro A Pintura em Pânico. __________ Pai João secou como um pau sem raiz. — Pai João vai morrer. Pai João remou nas canoas. — Cavou a terra. Fez brotar do chão a esmeralda, Das folhas — café, cana, algodão. Pai João cavou mais esmeraldas. Que Paes Leme. A filha de Pai João tinha peito de Turina para os filhos de ioiô mamar: Quando o peito secou a filha de Pai João Também secou agarrada num Ferro de engomar. A pele de Pai João ficou na ponta Dos chicotes. A força de Pai João ficou no cabo Da enxada e da foice. A mulher de Pai João o branco A roubou para fazer mucamas. O sangue de Pai João se sumiu no sangue bom Como um torrão de açúcar bruto Numa panela de leite. — Pai João foi cavalo pra os filhos de ioiô montar. Pai João sabia histórias tão bonitas que Davam vontade de chorar. Pai João vai morrer. Há uma noite lá fora como a pele de Pai João. Nem uma estrela no céu. Parece até mandinga de Pai João. Genre Piano