DÉCIMAS - SOCORRO LIRA e NUMA CIRO by Socorro Lira published on 2017-03-30T12:37:47Z LETRA EM DÉCIMA: NUMA CIRO MÚSICA: SOCORRO LIRA 1 Pra cantar desafio estou contigo Oh poeta que temo e admiro Estatura não tenho mais prefiro Ser o anjo que afasta o inimigo A morada do amor é meu abrigo O desejo da rima é combinar O sentido do mote está no ar Quem pegar na palavra diz o seu Quem pensar que eu não canto escute o meu É com ele que vou me apresentar 2 Sou o vôo do desejo no horizonte Sou o riso da criança desejada Sou Lisboa, em Pessoa, visitada A verdade beijou a minha fronte Sou a Dolce Vita de uma fonte Sou a taça nas mãos do vencedor Sou o peito que acolhe o perdedor Sou a brisa da sorte na desdita Sou a crença daquele que acredita No projeto de paz de um sonhador 3 Sou a voz que atravessa a escuridão Origamis de acenos em louvor Sou calunga de louça e negra cor A conversa que esquenta o coração Sou boneca de pano de algodão Imitou-me a rainha de Sabá Do sermão eu soletro o bê-á-bá Pelos meus belos olhos um império Conquistou os recintos do mistério Sem meu canto esse mundo o que será 4 Sou o susto da paixão inesperada Sou o beijo na bela adormecida A valsa de Strauss em nossa vida Quando o frevo revela a mascarada Com a varinha de condão sou essa fada Sou a mão que recebe o visitante Sou a casa que acolhe o habitante E a certeza do pão de cada dia Eu não posso viver sem harmonia Sou Chiquinha Gonzaga e Almirante 5 Sou-o-chi-ne-lo-ve-lho-pro-can-sa-ço A pausa no mundo que tem pressa O carrinho na escada de Odessa E a silhueta do velho Encouraçado Sou a água que chove no roçado E o sol que desponta na Sibéria Utopia que acaba com a miséria Sou a noiva no altar do casamento Sou a dor que caiu no esquecimento E o remédio que mata bactéria. 6 Sou o dom de ler a mão de uma cigana De Beethoven a nona sinfonia Sou a noite que separa o dia-a-dia E o domingo entre os dias da semana Sou o fogo que alimenta a velha chama A natureza duradoura do amor A violeta do olhar de Liz Teilor Sou o fio que desmancha o labirinto Eu só falo o que penso e o que sinto Sou a boca carnuda de Bardot 7 Madalena confessou foi meu pecado Carla Perez roubou a minha bunda Dos meus sonhos a beleza é oriunda A história nasceu do meu passado Meu destino pelo verso foi traçado Sou o sopro de Deus na criação Sou o Bumba-meu-boi do Maranhão No cordel sou a rima das sextilhas Sou Alice no País das Maravilhas E as sete cataratas do sertão 8 Sou na festa de Babete o apetite Sou a bola na cesta do basquete Sou as coxas perfeitas da vedete E a forma do belo em Afrodite Sou a cor da cabrocha de azeviche Sou o raio de Iansã da Conceição Vaidade aberta em leque do pavão Sou as águas de março em abril E a mistura de raças do Brasil Sou a força dos cabelos de Sansão 9 Só se fala atualmente em internete Endereço eletrônico navegar Comunica quem aprende a sitiar Uma bomba que não mata mas impede A conversa cara a cara sem confete Pois eu acho esse papo muito sério Manuscrito já perdeu o seu império Sobre isso escrevi sem nostalgia Pra não ter o atraso de um dia Eu mandei-o para Bráulio por e-méio 10 Aprendi com minha avó, desde menina, A fazer da cantoria vocação Assistindo Retalhos do Sertão Na rádio Borborema de Campina Zé Limeira confirmou a minha sina James Joyce com Homero foi casado Guimarães Flor Lispector encantado Eu não posso viver sem escritura Se transforma em criador a criatura Quando eu canto martelo agalopado Genre Rock alternativo