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E ali está Thiago Fritz, dentro daquela caverna, vendo nos olhos de seus companheiros um olhar incerto, porém determinado, convictos de que não deixariam mais ninguém partir.
Em sua mente cada vez mais clara, o discernimento era cada vez mais brando, aquele símbolo novamente parecia fazer sentido. Em suas costas ardia o sabor daquele que jurou nunca provar, o mundo que um dia foi real, agora parecia distante e inalcançável.
De seus lábios podia-se ouvir palavras confiantes, que encheriam os ouvidos de qualquer um, reluzindo em sua voz a certeza de que nunca sucumbiria. A imagem de seu pai era cada vez mais presente em sua lembrança, suas pálpebras lutavam para não derramar aquelas lágrimas contidas em sua incerteza do que poderia estar guardado em seu futuro.
Marcado em sua carne, o tempo se deliciava com suas últimas forças, os ponteiros de seu relógio se moviam vagarosamente, um segundo poderia ser eterno.
Ciente do fim de sua trajetória, vendo sua sanidade esvaindo-se por suas mãos, aquele guerreiro enfim sucumbiu às lágrimas, clamando para seus companheiros a oportunidade que esperava durante toda sua vida.
Contrariados e em prantos, eles saiam daquela caverna, deixando para trás o jornalista que lhes abriu tantas vezes as mais sólidas das portas.
Com seu isqueiro em mãos, tirava de seu bolso àquele último cigarro e no atrito de suas mãos àquele maquinário, como mágica reluzia uma bela chama, dançando entre seus dedos e fazendo a escuridão estremecer, tentando desesperadamente se afastar daquela impiedosa fonte de calor.
Acendendo aquela velha e ingrata companheira que lhe acalentou dentre tantos temores, tragava naquele momento todos seus sonhos, era engraçado como aquilo que lhe arrancava seu tempo, naquele momento o fazia se sentir tão vivo.
Na fumaça que emanava de seus pulmões poderia ver-se reunido aos que já se foram, tendo o orgulhoso braço de seu pai sobre os ombros, com seus olhos negros completamente imersos naquela fria água salgada que se contrastava com o calor das chamas que consumiam aquela caverna.
O santo berço já não mais devorava, mas sim clamava por misericórdia enquanto era devorado pelas chamas.
Não havia dor ou sofrimento, nosso guerreiro enfim se via abraçado por seu herói. O mundo não conheceria seus atos heroicos, seu nome não seria clamado como o de seu pai, mas nesse momento nada mais importava, afinal, enfim ele novamente poderia se sentar com àquele que um dia tanto admirou e poderia enfim agradecer àquele que, como ele mesmo, havia se entregado às chamas.
- Genre
- Hip-hop & Rap