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Nesta semana, aprenda como controlar o corpo de uma mulher. Porque é isso que insistem em fazer.
Em um intervalo de poucos dias, testemunhamos uma série de ataques à existência das mulheres, com violências de natureza concreta e simbólica, aqui, no Brasil, e nos Estados Unidos.
Primeiro, uma menina de 11 anos que está grávida e tem o direito ao aborto negado. A criança procurou o hospital de uma cidade de Santa Catarina com 22 semanas de gravidez. A equipe se recusou a fazer o procedimento alegando que o limite é de 20 semanas. O caso, então, vai parar nas mãos da juíza Joana Ribeiro Zimmer que, segundo reportagem do The Intercept Brasil não apenas negou o direito ao aborto como falou o impensável à criança. “Pode suportar mais um pouquinho?”
A menina eventualmente conseguiu realizar o procedimento. O presidente da república, Jair Bolsonaro, manifestou-se contrário à decisão final, insinuando que a concepção foi fruto de uma relação consensual, ignorando que uma menina de 11 anos, de acordo com a legislação brasileira, não pode consentir. Portanto, qualquer criança grávida é vítima de estupro de vulnerável. Lembrando que o aborto em caso de estupro é autorizado no Brasil.
Enquanto isso, a Suprema Corte dos Estados Unidos revogou a decisão conhecida como roe vs. Wade, de 1973, que garantia o direito ao aborto legal em todo o território americano. Agora, fica a cargo dos Estados a decisão sobre o corpo das mulheres. Alguns dos mais conservadores, como o Alabama, foram ágeis e já criminalizaram a prática, mesmo em caso de estupro.
E então, no último final de semana, a atriz Klara Castanho, de 21 anos, teve a intimidade revelada da maneira mais torpe. Dois colunistas de fofoca expuseram a mulher de forma vil e cruel, espalhando para o mundo que ela escondeu uma gravidez e que encaminhou a criança para a adoção. Forçando a jovem a vir a público e explicar que havia sido estuprada e que a criança era fruto desse abuso. Ainda assim, foi condenada, por decidir não criar a criança.
Ou seja, mesmo em caso de estupro, está errada a mãe que quer terminar a gravidez e está errada a mãe que decide não fazer o aborto mas opta pela adoção. Só está certa a mulher cristã, cisgênero - lógico -, que casa com um homem e que procria. Desde que tenha poder aquisitivo alto pra criança ter “uma vida boa”, porque pobre não deve ter filhos. Ah, ela também que “ser feminina”. Magra, usar salto alto, fazer as unhas, cuidar da casa e do marido e ser obediente, deve ficar calada. E ainda assim, estará errada.
A apresentação é de Geórgia Santos. Particiapam Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol.
A capa é uma montagem a partir da arte de Cristiano Siqueira.
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